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Aline Paranhos

Carta às mães cujos filhos eu vi nascer



Chorei a emoção da chegada de seus filhos ao “lado de cá. Com cada um deles. Sem exceção.

Esse choro muitas de vocês viram, algumas poucas fotos capturaram, outras de vocês provavelmente nem notaram, inebriadas que estavam pelo momento tão sublime de renascer mãe de um, de dois, de dois ao mesmo tempo, de três.


O que vocês seguramente não viram foram as lágrimas que eu derrubei depois dos nascimentos.


Eu chorei de alegria por aquelas de vocês que realizaram seu sonho. Chorei de emoção por assistir a vulnerabilidade daquelas que sempre se mostravam tão fortes e conseguiram se permitir apenas sentir. Chorei a dor da que foi deixada sozinha na sala de parto cheia de desconhecidos. Chorei de raiva de assistir violência obstétrica contra tantas de vocês embaixo do meu nariz sem que eu pudesse fazer nada além de oferecer minhas mãos para serem apertadas. Chorei nas vezes em que não tive espaço para chegar perto. Chorei por aquela que me fez algoz, porque por algo me atribuiu parte da culpa por não ter alcançado o parto que ela queria. Chorei pela falta de reconhecimento e pela alegria de ter sido até, de certa forma, reverenciada. A cada parto, de cada uma de vocês eu chorei. Durante ou depois, às vezes durante e depois, eu chorei. De alegria, na maioria das vezes, mas de tristeza outras tantas pelas suas dores, pelas minhas dores, pelas dores da minha parceira de trabalho e da vida, Larissa Lima da @florescendodemim (essa mulher que é testemunha, parceira e cúmplice de tantos desses momentos e da construção desses pensamentos), eu chorei.


Eu me preparei muito para vocês: com estudo, trocas de experiência com outras doulas, trabalho voluntário, mais estudo, disponibilidade, entrega... mas pouco me preparei para mim. Eu subestimei os efeitos desse evento de vida-morte-vida na minha própria vida e por vezes me abati. Mas quando entendi a grandiosidade desse fato, de que um parto ou cesárea reverberam muito na vida de nós que estamos lá de corpo e alma para assistir, parti para me entender melhor e ser campo fértil para tanto aprendizado, me amando, me abraçando, me (re)conhecendo.


Hoje eu estou mergulhada com consciência no meu processo evolutivo. Honrada e agradecida a cada uma de vocês que me permitiram testemunhar o nascimento dos seus filhos, reconheço que esse tanto de sensações que a doulagem me trouxe foi a “linha de largada” para uma enxurrada de conhecimento sobre o sagrado feminino - especialmente sobre o meu próprio sagrado feminino - que tem chegado até mim. E todo esse sentir se deu porque vocês me permitiram estar ali. Gracias por tanto y todo.


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